sexta-feira, 3 de junho de 2011

Grosseiro, não

Se você faz o tipo chefe estúpido, saiba que os ataques de diva podem comprometer sua carreira


O publicitário paulista Marcos Le Pera, de 41 anos, era um terror na empresa. Presidente da Le Pera Propaganda, em São Paulo, ele quase nunca estava disponível para os funcionários e, quando se dirigia a alguém, freqüentemente vinha artilharia pesada. Com freqüência ele gritava com a equipe e humilhava os profissionais -- que morriam de medo de chegar perto dele! Marcos encarnava o típico grosseiro corporativo, aquele profissional incapaz de respeitar o próximo, sem educação, que trata todo mundo mal. "São pessoas que geralmente agem como se estivessem no controle da situação, para camuflar a dificuldade de lidar com seus desajustes pessoais, como o medo da competição no trabalho ou a visão distorcida do poder que possui", diz Moacir Carlos Sampaio Silva, coordenador da pós-graduação em Psicologia Social das Organizações do Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo.
Comum nas organizações (quem é que nunca topou com um cara assim na empresa?!), esse profissional não passa dos limites apenas com os subordinados. Pares e até superiores são alvos de suas grosserias. E o pior é que quase sempre o raivosinho nem percebe que passou dos limites. "Ele se comporta assim porque não sabe fazer de outra forma. E tende a agir da mesma maneira tanto no ambiente profissional quanto nas suas relações familiares, afetivas e sociais", diz Moacir Carlos. Tanto homens como mulheres fazem parte desse time. A diferença é a forma como cada um se manifesta. Eles reinam no campo das indelicadezas verbais, não poupando termos pesados nem se preocupando em constranger publicamente sua vítima. "Elas não costumam levantar a voz e berrar palavrões. Mas em geral são ardilosas e sabem como colocar o funcionário para baixo com suas atitudes", diz a consultora de recursos humanos Stella Angerami, sócia-diretora da Counselling by Angerami, em São Paulo. Ela lembra que o jeito como um chefe joga o relatório na mesa do funcionário, como deixa de elogiar uma tarefa bem-feita ou dá um jeito de não ter tempo na agenda para comparecer a uma reunião com a equipe são formas de mostrar grosseria sem se exceder nas palavras.

CARREIRA EM RISCO
Há quem argumente que a pressão constante por resultados e a carga exagerada de trabalho, tão comuns no mundo corporativo, são responsáveis pelos acessos de cólera e desrespeito. Ok, isso pode até justificar uma explosão num dia mais difícil. Mas não pode virar rotina. "Quando os problemas gerados pelo temperamento difícil se tornam maiores do que os aspectos positivos da pessoa e o desempenho dela nos negócios, a carreira está sob alerta", afirma a headhunter Andréa de Paula Santos, responsável pela área de Executive Search da consultoria NeoConsulting, em São Paulo. Foi o que descobriu, na prática, o paulista Vagner Aguilar, de 34 anos, diretor de marketing da Bio Ritmo Academia, em São Paulo. Ele conta que nunca estava aberto ao diálogo e, quando algo não saía como queria, expunha os funcionários ao ridículo. A própria equipe reagiu e cobrou uma mudança de comportamento do chefe. E há cerca de um ano uma reformulação na empresa deixou claro que ali não havia espaço para gente grosseira como ele. "Percebi que não estava mais sendo chamado para participar de reuniões estratégicas porque sabiam que eu tinha pouco a acrescentar ao coletivo." Depois de um período de revolta por se achar vítima de perseguição, Vagner resolveu mudar. "Ainda tenho que melhorar, mas aprendi a me relacionar e percebi que ninguém faz uma empresa sozinho."

O publicitário Marcos Le Pera também caiu em si depois de perceber que amigos, parentes e funcionários estavam se afastando dele. "Com ajuda de meditação e filosofia, aprendi a canalizar minha agressividade para o bem. Em vez de surtar diante de um erro, por exemplo, ouço o que a pessoa tem a dizer." Sorte de Marcos e Vagner, que acordaram em tempo. Em alguns casos, as tais grosserias corporativas não só comprometem a carreira e as relações pessoais como vão parar no tribunal. "Toda manifestação de desrespeito pode virar um caso de assédio moral, desde que se torne repetitiva e evidencie a intenção de constranger ou humilhar", alerta o advogado Luis Felipe Tenório, do escritório Barbosa, Müssnich & Aragão, do Rio de Janeiro.

BOAS MANEIRAS CORPORATIVAS
Sete dicas sobre como você deve se comportar no ambiente de trabalho e evitar ataques de grosseria:

1. Imponha limites.
Há momentos em que vida pessoal realmente não pode se misturar com o trabalho. Você não pode descarregar seus problemas particulares nos colegas de trabalho.

2. Mude seu discurso.
Em vez de esbravejar algo como "Já disse isso mais de mil vezes", diga "Acho que não me expressei bem", por exemplo. Ou "Talvez eu possa te ajudar" no lugar de "Você não entende nada mesmo".

3. Peça desculpas.
Pode não resolver a questão, porém demonstra respeito e consciência do próprio erro. E, se o constrangimento que motivou o pedido de desculpas foi público, retrate-se também diante da equipe.

4. Conheça a equipe.
É preciso estar ciente das qualidades e limitações de cada membro para saber a quem delegar cada tarefa, evitando desentendimentos e constrangimentos, e otimizando a produção.

5. Aprenda a ouvir.
Um líder de verdade quer saber o que a equipe tem a dizer sobre sua liderança e como pode melhorar. Marque reuniões periódicas e cobre avaliação.

6. Respire fundo.
Quando perceber que está prestes a explodir no escritório, repita um exercício de meditação que ajuda a esvaziar a cabeça: pare tudo, tome fôlego e conte até 10.

7. Interaja.
Uma pausa para um café ou um bate-papo no corredor é uma ótima desculpa para se aproximar da equipe, trocar idéias com os colegas de trabalho e desanuviar a mente.


daqui: vocesa

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E a pergunta que não quer calar: alguém quer arriscar trabalhar com essa pessoa?

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